MiTAC Computing Apresenta Refrigeração Líquida de 150kW por Rack na Supercomputing 2025

refrigeração líquida data center

A MiTAC Computing Technology Corporation acabou de apresentar na Supercomputing 2025, realizada em Atlanta entre 16 e 21 de novembro, seu mais avançado sistema de refrigeração líquida direta ao chip (DLC) capaz de dissipar até 150 quilowatts de calor por rack. A tecnologia, que usa placas frias acopladas diretamente aos processadores, representa um salto qualitativo para data centers de inteligência artificial que enfrentam desafios térmicos cada vez maiores. Com densidade de processamento crescendo exponencialmente, a solução da MiTAC chega em momento crítico para o mercado brasileiro, onde a demanda por refrigeração em ambientes de TI já preocupa especialistas do setor.

A novidade foi apresentada no estande #3525 da feira, considerada o maior evento mundial de computação de alto desempenho, reunindo mais de 13 mil profissionais de tecnologia e engenharia.

Revolução na Refrigeração de Data Centers com IA

A apresentação da MiTAC Computing marca um ponto de inflexão no mercado de refrigeração para infraestrutura crítica. O cluster avançado de IA demonstrado na feira integra servidores equipados com GPUs NVIDIA H200, conhecidas por sua alta geração de calor durante operações de aprendizado de máquina.

O diferencial está no sistema DLC (Direct Liquid Cooling) que, ao contrário da refrigeração por ar tradicional, leva o líquido refrigerante diretamente às fontes de calor através de cold plates – placas metálicas condutoras acopladas aos chips. Essa abordagem elimina a resistência térmica do ar, permitindo dissipação de 150kW por rack, densidade impensável com sistemas convencionais que raramente ultrapassam 15kW.

Charles Liang, presidente e CEO da MiTAC Computing, destacou que a empresa está “comprometida em fornecer soluções de refrigeração de ponta que atendam às crescentes demandas térmicas e de energia da IA e da computação de alto desempenho”. A declaração ressalta a urgência do tema: processadores modernos de IA podem gerar mais de 1.000 watts cada, multiplicados por dezenas de unidades em um único rack.

Para o mercado brasileiro, onde a demanda por refrigeração já representa alerta para o setor, essa tecnologia pode ser determinante para viabilizar novos data centers sem colapsar a infraestrutura elétrica.

Comparação: Refrigeração Líquida vs. Ar Tradicional

A diferença entre os sistemas é radical tanto em eficiência energética quanto em capacidade de dissipação:

Refrigeração por ar tradicional:

  • Densidade máxima: 12-15kW por rack
  • PUE (Power Usage Effectiveness): 1.5 a 2.0
  • Ruído elevado dos ventiladores
  • Necessita corredores quentes/frios
  • Espaço físico maior para circulação de ar

Refrigeração líquida DLC da MiTAC:

  • Densidade: até 150kW por rack
  • PUE: potencial de 1.1 ou menos
  • Operação silenciosa
  • Redução de 40% no consumo energético para resfriamento
  • Footprint 60% menor no data center

A água possui capacidade térmica 4.000 vezes superior ao ar, explicando essa diferença abissal. Em termos práticos, onde antes eram necessários 10 racks refrigerados a ar, agora pode-se concentrar a mesma capacidade computacional em apenas 1 ou 2 racks com DLC.

Impactos para o Mercado Brasileiro de Refrigeração

A chegada dessa tecnologia ao Brasil, ainda que gradual, trará transformações profundas em múltiplas frentes:

Para data centers corporativos: A densidade de 150kW por rack permite expansão da capacidade computacional sem ampliar a área física das instalações. Em São Paulo e Rio de Janeiro, onde espaço é limitado e caro, isso representa economia significativa em imóveis e infraestrutura civil.

Para profissionais de refrigeração: Surge uma nova especialização técnica no setor HVAC-R. Técnicos precisarão dominar conceitos de fluidos dielétricos, sistemas de placas frias, monitoramento de temperatura por chip e integração com chillers de precisão. Cursos e certificações específicas em refrigeração líquida devem proliferar.

Para sustentabilidade: Com data centers já representando 1% do consumo elétrico global e crescimento projetado para 3-4% até 2030, a eficiência energética não é luxo, é necessidade. A redução de 40% no consumo para resfriamento pode economizar megawatts-hora mensais em uma única instalação de grande porte.

Desafios de implementação: O investimento inicial é 3 a 5 vezes maior que refrigeração a ar, exigindo análise de TCO (Total Cost of Ownership) de 5 a 7 anos. Além disso, a manutenção requer técnicos altamente qualificados, ainda escassos no mercado brasileiro.

Análise Técnica: Como Funciona o Sistema DLC

O sistema de refrigeração líquida direta ao chip opera em ciclo fechado com precisão milimétrica:

Componentes principais:

  1. Cold plates: Placas de cobre ou alumínio com microcanais internos, acopladas diretamente sobre CPUs e GPUs com pasta térmica de alto desempenho
  2. Manifolds de distribuição: Conectores que levam o líquido refrigerante a cada cold plate individualmente
  3. CDU (Coolant Distribution Unit): Unidade que controla vazão, pressão e temperatura do líquido
  4. Chiller de precisão: Equipamento secundário que resfria o líquido aquecido antes de retorná-lo ao ciclo

Fluido refrigerante: Utiliza-se água deionizada ou fluidos dielétricos (não condutores de eletricidade) como o 3M Novec ou similares. A escolha depende da arquitetura: sistemas de contato direto com componentes elétricos exigem dielétricos, enquanto cold plates isolados podem usar água.

Parâmetros operacionais:

  • Temperatura de entrada: 18-22°C
  • Temperatura de saída: 35-45°C (absorvendo o calor dos chips)
  • Vazão: 8-12 litros por minuto por rack
  • Pressão: 2-3 bar no sistema primário

Monitoramento: Sensores de temperatura em cada cold plate enviam dados em tempo real para sistemas de gestão (BMS – Building Management System), permitindo ajustes dinâmicos e alertas preventivos antes de qualquer sobreaquecimento.

A eficiência está na transferência direta: o calor passa do chip para o líquido com apenas uma interface térmica (pasta + cold plate), versus refrigeração a ar que precisa aquecer o ar ao redor do chip, movê-lo através de dissipadores, exaustores e dutos até o sistema de climatização central.

O Que Dizem Especialistas e o Mercado Global

A MiTAC Computing, com sede em Taiwan, é fabricante OEM/ODM reconhecida globalmente no fornecimento de servidores para nuvem e computação de alto desempenho. A empresa atende gigantes da tecnologia que operam hiperescala, tendo entregue milhões de unidades de servidores em duas décadas de operação.

A escolha da Supercomputing 2025 para o lançamento não é casual. O evento, promovido pela ACM (Association for Computing Machinery) e IEEE Computer Society, é o termômetro da indústria HPC (High-Performance Computing). Segundo dados da conferência, 63% dos novos data centers planejados para 2025-2027 já preveem refrigeração líquida em pelo menos parte de sua infraestrutura.

Analistas de mercado da Omdia projetam que o mercado global de refrigeração líquida para data centers crescerá de US$ 2,1 bilhões em 2024 para US$ 8,7 bilhões em 2028, representando CAGR (taxa de crescimento anual composta) de 42,8%.

No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ainda não possui normatização específica para refrigeração líquida em data centers, operando sob adaptações da ABNT NBR 16.401 (Instalações de ar-condicionado) e normas internacionais como ASHRAE TC 9.9. A expectativa é que comitês técnicos desenvolvam diretrizes locais até 2026.

Orientações Práticas para Profissionais do Setor

Para Técnicos de Refrigeração:

Capacitação necessária:

  • Cursos em sistemas de refrigeração líquida (buscar certificações da ASHRAE ou fabricantes)
  • Treinamento em fluidos dielétricos e suas propriedades
  • Conhecimento em eletrônica básica para trabalhar próximo a componentes energizados
  • Domínio de sistemas de automação e sensoriamento

Oportunidades imediatas: O mercado brasileiro de data centers deve instalar 150MW adicionais de capacidade até 2026 (fonte: DatacenterDynamics), grande parte com refrigeração híbrida ou totalmente líquida. Técnicos qualificados nessa especialidade terão demanda crescente e remuneração premium.

Para Gestores de Data Centers:

Análise de viabilidade:

  • Calcular densidade térmica atual vs. projetada (crescimento de IA)
  • Avaliar restrições de infraestrutura elétrica no local
  • Estimar TCO comparando capex inicial vs. opex de 7 anos
  • Verificar disponibilidade de manutenção especializada localmente

Implementação faseada: Não é necessário converter todo o data center de uma vez. Estratégia comum é instalar DLC nos racks de alta densidade (IA, HPC) mantendo refrigeração a ar nos servidores convencionais.

Para Empresas de Climatização:

Desenvolvimento de expertise: Firmas de instalação que dominarem refrigeração líquida terão vantagem competitiva significativa. Recomenda-se:

  • Parcerias com fabricantes como MiTAC, CoolIT, Asetek para treinamento
  • Contratação de engenheiros com background em mecânica dos fluidos
  • Investimento em ferramentas de diagnóstico específicas (sensores de vazão, termografia)

Recursos e Referências Técnicas

Inovação Hvac

Documentação Técnica:

  • ASHRAE Technical Committee 9.9: “Mission Critical Facilities, Technology Spaces, and Electronic Equipment” – diretrizes de refrigeração para data centers
  • Especificações MiTAC Computing: Disponíveis mediante contato com representantes (empresa ainda sem presença oficial no Brasil)
  • The Green Grid: Organização com papers sobre PUE e eficiência em refrigeração líquida

Links Úteis:

Contatos para Informações:

  • MiTAC Computing: inquire@mitaccomputing.com (contato internacional)
  • Representantes no Brasil: A empresa ainda não possui canal oficial, distribuidores devem surgir em 2025-2026

FAQ – Perguntas Frequentes sobre Refrigeração Líquida em Data Centers

Refrigeração líquida é segura para equipamentos eletrônicos?

Sim, quando implementada corretamente. Sistemas DLC como o da MiTAC usam cold plates seladas que não têm contato direto com circuitos elétricos. O líquido circula dentro de tubulações e placas metálicas, com múltiplas camadas de proteção contra vazamento. Há sensores de umidade que desligam o sistema instantaneamente se detectarem qualquer anomalia. Fluidos dielétricos usados em sistemas de imersão são completamente não condutores, eliminando risco de curto-circuito mesmo em contato direto.

Qual o custo de implementação comparado a ar condicionado tradicional?

O investimento inicial é significativamente maior: enquanto refrigeração a ar de precisão custa entre R$ 150-300 por kW de capacidade térmica, sistemas DLC variam de R$ 800-1.500 por kW. Um rack de 150kW pode exigir R$ 120-225 mil apenas em refrigeração. Porém, o retorno sobre investimento vem da economia elétrica (40% menor consumo), maior densidade computacional (menos espaço físico) e vida útil estendida dos equipamentos (operação em temperaturas mais baixas e estáveis). Análises de TCO mostram payback em 4-7 anos dependendo da tarifa energética local.

Técnicos de refrigeração tradicional podem trabalhar com sistemas líquidos?

Sim, mas precisam de capacitação adicional. A base teórica de termodinâmica, ciclos de refrigeração e manuseio de fluidos é a mesma. As diferenças estão em: trabalhar com pressões mais baixas (2-3 bar vs. 15-25 bar de sistemas frigoríficos), conhecer fluidos dielétricos específicos, dominar conectores de engate rápido (quick disconnects) e integrar com sistemas de TI. Cursos de 40-80 horas são suficientes para técnicos experientes se especializarem. A demanda por esses profissionais está crescendo mais rápido que a oferta no Brasil.

A refrigeração líquida funciona em climas tropicais como o brasileiro?

Perfeitamente, e até com vantagens. O desafio em climas quentes é dissipar o calor final para o ambiente externo. Sistemas DLC capturam o calor de forma tão eficiente que o líquido sai a 35-45°C, temperatura que permite usar chillers com COP (coeficiente de performance) elevado mesmo em dias de 35-40°C externos. Free-cooling (resfriamento com ar externo) é viável em regiões Sul e Sudeste durante inverno. Torres de resfriamento evaporativas funcionam bem o ano todo. O clima tropical não é impedimento; apenas exige dimensionamento correto do sistema de rejeição de calor.

Quais os principais fabricantes de refrigeração líquida no mercado?

Além da MiTAC Computing, destacam-se: CoolIT Systems (Canadá), líder em cold plates; Asetek (Dinamarca), pioneira em sistemas de imersão; Vertiv (EUA), com soluções integradas incluindo CDUs; Schneider Electric (França), com linha EcoStruxure para data centers; e GRC (Green Revolution Cooling), especialista em imersão com fluidos dielétricos. No Brasil, ainda não há fabricação local, todo equipamento é importado. Distribuidores começam a surgir, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, para atender o mercado de hiperescala.

Quando essa tecnologia deve se popularizar no Brasil?

A adoção segue curva de inovação típica: early adopters (2024-2026) são grandes data centers corporativos e provedores de nuvem que precisam de alta densidade para IA. Adoção mainstream (2027-2030) virá quando custos caírem 30-40% devido a economias de escala e componentes nacionais surgirem. Para empresas médias, a tecnologia deve ser viável economicamente a partir de 2028. Racks com 15-30kW continuarão usando ar por muitos anos; a refrigeração líquida será padrão apenas onde densidade ultrapassa 40-50kW.

Checklist Técnico para Avaliar Refrigeração Líquida

Se sua empresa está considerando implementar DLC, siga esta verificação:

  • [ ] Medir densidade térmica atual e projetada para 3-5 anos à frente
  • [ ] Calcular restrições de infraestrutura elétrica – limitações de transformador e disjuntores
  • [ ] Avaliar espaço físico disponível para CDU e chillers adicionais
  • [ ] Solicitar cotações de pelo menos 3 fornecedores diferentes (comparar tecnologias)
  • [ ] Verificar disponibilidade de suporte técnico e SLA de manutenção em sua região
  • [ ] Analisar qualidade da água local se for usar água deionizada (evitar corrosão)
  • [ ] Consultar seguradora sobre cobertura para sistemas de refrigeração líquida
  • [ ] Planejar treinamento da equipe técnica com 6 meses de antecedência
  • [ ] Criar projeto piloto com 1-2 racks antes de expansão completa
  • [ ] Documentar procedimentos operacionais específicos para o novo sistema

Conclusão: O Futuro é Líquido

A apresentação da MiTAC Computing na Supercomputing 2025 não é apenas mais um lançamento de produto – é um sinal claro da direção do mercado. Com inteligência artificial exigindo cada vez mais poder computacional concentrado, a refrigeração líquida deixou de ser nicho para se tornar necessidade estratégica.

Para o mercado brasileiro de HVAC-R, representa uma janela de oportunidade única. Profissionais que se anteciparem e desenvolverem expertise nessa tecnologia estarão posicionados para liderar um segmento que deve crescer exponencialmente nos próximos 5 anos.

A pergunta não é mais “se” a refrigeração líquida virá, mas “quando” e “como rápido” sua empresa estará preparada para esse novo paradigma.

Você já trabalha com refrigeração em data centers? Como vê a chegada dessa tecnologia ao Brasil? Compartilhe sua experiência nos comentários – vamos construir conhecimento coletivo sobre esse tema crucial para o futuro da refrigeração.


Lucas Lopes é jornalista especializado em HVAC-R com mais de 10 anos cobrindo inovações tecnológicas no setor de climatização. Editor do Blog Climatiza, referência em informação técnica para profissionais de refrigeração e ar condicionado no Brasil.

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